Leve Além...

Impressões de leitura- Macunaíma


UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS E TECNOLOGICAS- DCHT
CAMPUS XVI- IRECE /BA
CURSO: LETRAS-PRIMEIRO SEMESTRE
DISCIPLINA: ESTUDO DA PRODUÇAO LITERARIA NO BRASIL
DOSCENTE: MARIA AURINÍVEA SOUZA DE ASSIS
DISCENTE: ADSON MOREIRA DE SOUZA

Impressões de leitura

Macunaíma
O herói brasileiro
Relação do livro Macunaíma com o filme e reflexões feitas em sala de aula

Significado: grande mal
É a historia de um brasileiro que foi comido pelo Brasil.
Herói dos índios
            O personagem no livro é mais gentil do que no filme, no cinema ele é mais agressivo, feroz e pessimista do que no livro onde é alegre e melancólico.
            Macunaíma é o herói derrotado, que acaba comido pela Iara, abandonado e traído. Sua trajetória, desde o nascimento ate a morte, com todas as reviravoltas, é um caminho da terra para terra. Ele come terra no principio e no fim, mas na verdade é a terra que termina por comê-lo.
            Falta para a personagem de Macunaíma uma visão geral, mais ambiciosa e mais consciente. Ele dá sempre os seus golpes com objetivos limitados, pessoais, individualistas. Ele é o estágio vencido do que seria o caminho para o herói moderno brasileiro. O herói moderno deve ser uma espécie de encarnação nacional, cujo destino se confunde com o próprio destino de seu povo. Uma das características fundamentais desse homem é a consciência coletiva, que não é o caso de Macunaíma.
            Para ser o herói moderno Macunaíma deveria encarnar um ser moral, no sentido de estar possuído por toda uma ética social. Ele terá de ser um vencedor ao contrario do romântico, que era o herói vencido e triste.
            Em Macunaíma, há uma total bagunça étnica. Paulo José, travestido como a mãe branca de Macunaíma preto (grande Otelo). Nas transformações mágicas de preto para branco, o herói se torna racista. Branco, gera com uma mãe branca um filho negro. Caracterizando o problema racial brasileiro, que não engloba somente os negros, mas os índios no processo identitário brasileiro, das nossas raízes que muitas vezes são esquecidas ou manipuladas.
              No campo cinematográfico se faz necessário denunciar as estruturas moralizantes e não um filme que justifica os esquemas da moral tradicional. Macunaíma denuncia os valores ultrapassados que só servem para ocultar a realidade antropofágica. De fato, em nossa sociedade os homens se devoram uns aos outros. O herói trata dessa realidade antropofágica através de um personagem irreverente, que rompe com a nossa coerção educativa.
            Macunaíma nos mostra reflexões ideológicas mais amplas. É um livro/filme que encontra a America Latina em uma busca nacional. Baseado em lendas indígenas, descobrimos que seus heróis coincidiram com a historia e a realidade não só brasileira como de toda a America Latina, uma síntese que não tinha nada a ver com uma cultura falsa, importada. As lendas contidas em Macunaíma encontram uma mesma verdade.
            Um exemplo claro dessas lendas é o comedor de homens, ele não é uma representação  simbólica, é um típico modelo industrial antropofágico brasileiro.
UMA DAS PROBLEMATICAS DO FILME: O DE UMA PESSOA VIVER NO BRASIL.
CONTEXTUALIZANDO:
            Se Mário de Andrade estava empenhado nas descobertas das raízes do “caráter brasileiro” ou da falta desse caráter, Joaquim Pedro, por sua vez, se interessará pela crítica de um caráter brasileiro localizado e politicamente definido.
            LIVRO:
            Macunaíma foi escrito no final da década de 20, década do modernismo, período extraordinariamente polemico e revolucionário, que determinou, no Brasil, uma produção cultural renovadora, mas também profundamente contraditória. Era uma época mais de descoberta do que de reflexão e definição. O quadro do modernismo brasileiro absorvia e harmonizava ficticiamente tendências ideologicamente opostas como a psicanálise, o marxismo, o cristianismo, o liberalismo e o conservadorismo.
            Nesse momento histórico, Mário de Andrade se lança na aventura de escrever Macunaíma, definida como rapsódia que seria a obra mais expressiva do nosso modernismo. Na tentativa de identificar o caráter brasileiro, as raízes inconscientes de sua nacionalidade, procura expressamente se submeter ás formas de criação popular coletivas (lendas, casos, costumes brasileiros ou afeiçoados no Brasil). Entretanto Mário de Andrade seleciona e organiza a meteria mítica e lendária num discurso literário. Dessa forma o Macunaíma é portador e deflagrador das contradições básicas do tempo em que se insere.
            FILME:
            A década de 60, por sua vez, retoma em novos termos, a proposta modernista de descoberta do Brasil. Em 22 falava-se em independência cultural e em 60 falava-se em independência econômica. A experiência de 22 tentava definir uma nacionalidade: pesquisar suas raízes, descolonizar a cultura brasileira.
            A preocupação da produção cultural de 60 era, ainda, a descoberta do Brasil, mas agora em termos de sua estrutura social e econômica. É nesse momento que Joaquim Pedro adapta para o cinema a rapsódia modernista.
            Encontrando novas formas de ver
            Mario de Andrade, no ano de 1928 (mesmo ano do manifesto antropofágico de Oswald), trás a tona a ideia  das raízes da nacionalidade brasileira, através da literatura com a história do personagem Macunaíma herói brasileiro, sem  nenhum caráter. Um negro que nasce com idade avançada em uma tribo indígena.
            Mario traçou uma linha de pensamento para imaginarmos a questão do homem nacional. Ele trás uma historia de um personagem brasileiro, mostrando palavras de uma cultura esquecida, num país que contem diversos nomes indígenas denominando ruas e bairros.
            Seu personagem vive fatos irreais na mata brasileira, depois muda-se para São Paulo para tentar civilizar-se na cidade grande e acredita que os males do Brasil são “MUITA SAÚVA E POUCA SAÚDE”,tudo isso encontrando um mesclado de atualizações da cultura indígena de raiz, do pensamento de um personagem, o acumulo de conceitos sobre o cidadão brasileiro e de modo irreverente tenta não distanciar das questões do próprio povo. Assim Mario de Andrade na brincadeira poética acredita:
“se somando com minha preocupação brasileira profundamente pura, temos Macunaíma, livro meu.”
 Andrade, Mario in: Schwartz, 1995, p. 552.
Podemos inferir sobre a obra, duas situações essenciais para o sucesso da mesma que foram:
Por um lado o desejo de contar e cantar episódios em torno de uma figura lendária e que trazia em si os atributos do herói, que desempenhava certos papéis, vai em busca de um “bem” perdido, passa por perigos, sofre mudanças, enfim morre e da terra nascido, na terra falecido.
Por outro lado, desejo de pensar o povo brasileiro, nossa gente, percorrendo as trilhas cruzadas da sua existência selvagem, colonial e moderna, a procura de uma identidade que, de tal plural que é beira a surpresa e a indeterminação, daí surge a ideia de ser o herói sem caráter.
Importante: Compreender Macunaíma é reparar ambas as partes: a de narrar, que é lúdica e estética e a de interpretar que é histórica e ideológica.
            O denominador comum dessa época é o princípio da “libertação”. EX: foram as mudanças de gêneros feitas pelos autores daquela época. Em Macunaíma o autor faz a fusão do erudito com o popular, que representa uma conquista praticamente nova para a época. O personagem não assume nenhuma identidade constante.
Em 1974 serviu de argumento para o samba-enredo da escola de samba Portela.
No capitulo que fala da carta para Icamiabas podemos notar uma parodia da carta de Caminha onde ele tenta fazer uma reescrita da mesma. Nesse capitulo Macunaíma, herói, manda uma carta para as amazonas lhe pedindo cacau, para converter na moeda em circulação e relata experiências vividas na cidade de São Paulo. Quando ele relata como era a cidade grande ele pode ser comparado a Pero Vaz de Caminha com a sua carta ao rei Dom Manuel no sentido da descrição do que via no lugar que descreveu, tendo uma visão etnocêntrica e assim produzindo um exotismo na sua escrita. Podemos comprovar isso no trecho que diz:
“ E não contentes com essa poeira ser erguida pelo andar dos pedestrianistas e por urrantes maquinas a que chamam automóveis e eléctricos contrataram os diligentes edis, uns antropóides, monstros hipocentauros azulegos e monótonos, a que congloba o titulo de Limpeza Publica ”.
ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem caráter. BH:Lithera Maciel Ed. Ltda s/d.
Podemos citar nesta carta também a problemática da cidade grande, o lixo, a funcionalidade das pessoas da capital, as mulheres prostitutas. Para falar disso ele tenta ser erudito, mas parodia o erudito. Podemos perceber uma relação com Gandavo no sentido de que ele fala de uma língua que não contem algumas letras do alfabeto. Percebemos isso no trecho:
“ ao modo fino dos cronistas, que de três AAA se gera espontaneamente a fauna urbana “
 ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem caráter. BH:Lithera Maciel Ed. Ltda s/d.
Nota-se a presença das questões antropofágicas do personagem que incorpora as culturas estrangeiras como a de Portugal, quando ele cita Camões tenta ser erudito na carta das Icammiabas, mas  ao mesmo tempo parodia.
Voltando para a historia do livro.
Macunaíma é o índio moderno, múltiplo e contraditório, sem a aureola dos românticos. Nasce na selva, filho de uma índia tapanhumas e fala tardiamente. Vira príncipe e trai o irmão Jiguê ao brincar com as cunhadas, primeiro Sofará e depois Iriqui. Vira homem e mata a mãe, enganado por Anhangá. Casa-se com Ci, a mãe do mato, guerreira amazonas da tribo das Icamiabas. Macunaíma torna-se o Imperador do Mato Virgem. Após seis meses, tem um filho. A criança morre, transformando-se na planta do guaraná. Ci, cansada e desiludida, vira a estrela Beta da Constelação Centauro. Antes de morrer, porém, Ci deixa ao esposo a muiraquitã, uma pedra talismã que lhe daria a garantia de felicidade.
O herói perde a pedra que acaba nas mãos do rico comerciante peruano Venceslau Pietro Pietra, colecionador de pedras em São Paulo. Em companhia de seus dois irmãos – Maanape e Jiguê – vem para São Paulo a fim de reconquistar a pedra, que simboliza seu próprio ideal. Porém, Venceslau, que está disfarçado de comerciante, é na verdade o gigante Piaimã, comedor de gente; por isso, as investidas de Macunaíma contra ele não dão resultado. Só depois de apelar para a macumba Macunaíma consegue derrotar o gigante. Reconquistada a pedra, Macunaíma retorna ao Amazonas e se deixa atrair pela Iara, perdendo definitivamente a pedra. Como já não vê mais graça no mundo, vai para o céu, onde se transforma em estrela da Constelação Ursa Maior, ficando relegado ao brilho inútil das estrelas.